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Seminário debate estratégias diante do aumento de 300% nos focos de incêndios


Os focos de queimadas em Mato Grosso do Sul aumentaram 303% neste ano, no período de quase dez meses em relação ao ano passado, seguindo o cenário preocupante de avanço de incêndios do restante do Brasil. Em Campo Grande, a quantidade também dobrou em comparação a 2018, durante o período crítico de estiagem. Os dados foram repassados na manhã desta sexta-feira, durante o Seminário Direto ao foco – queimadas, meio ambiente e políticas públicas, na Câmara Municipal. O evento foi promovido pelo vereador Eduardo Romero, coordenador nacional da Frente Parlamentar de Vereadores Ambientalistas, contando com vários parceiros e entidades que atuam na questão ambiental.


Além da Frente Parlamentar, o seminário foi promovido pelo movimento Acredito, Comitê Municipal de Combate aos Incêndios Florestais e Urbanos de Campo Grande, com apoio da Câmara Municipal de Campo Grande, Prefeitura de Campo Grande e Assembleia Legislativa. A partir dos dados apresentados, que são discutidos periodicamente, será definido como podem ser planejadas estratégias para efetivar políticas públicas de proteção ao meio ambiente e para evitar a repetição desses casos durante a época de seca, principalmente nos meses de julho a setembro.


O vereador Eduardo Romero destacou que o seminário foi organizado a partir da ideia dos integrantes do movimento Acredito, que procuraram a Câmara e outras instituições para entender a dinâmica das queimadas neste ano e buscar soluções para minimizar esse problema. Ele defendeu que haja espaço para sociedade civil ter acesso às informações. “Mudança cultural se faz com ocupação de espaço, ocupando brechas, que é o que vocês estão fazendo hoje. Temos várias políticas públicas, mas os dados mostram que as ações ainda não são suficientes. Continuamos com dificuldades até de equipamentos para os comitês e as prefeituras. Então, temos que melhorar”, afirmou.


Romero enalteceu disposições para manter as discussões com as parcerias formalizadas. “O Legislativo pretende absorver o que foi discutido para apresentar novas legislações ou com emenda ao Orçamento, que está sendo debatido na Casa”, salientou. Ainda em junho, na Semana do Meio Ambiente, a Câmara promoveu o lançamento da campanha “Onde tem Queimada, não tem saúde!”, além de realizar ações durante o Agosto Alaranjado.


De janeiro até o dia 14 de outubro deste ano, Mato Grosso do Sul teve 8.354 focos de incêndio, aumento de 303% em relação ao ano passado, quando foram 2.064 ocorrências. O dado foi repassado pelo meteorologista da Uniderp/Anhanguera, Natálio Abrahão Filho, que também apresentou estatísticas de comparativos das queimadas em relação a outros estados e países.


Neste mesmo período, no Brasil foram 153,9 mil focos registrados, aumento de 47% em relação ao ano passado. A Amazônia lidera os casos. No Cerrado, foram 43 mil focos. Os gráficos apresentados mostram aumento ano a ano das queimadas. “A política de combate não está eficiente nem gerando resultados. Não existe fogo espontâneo nesses casos, é a mão humana que provoca o fogo”, ressaltou o meteorologista.


Ele demonstrou ainda preocupação com as consequências expressivas deste excesso de queimadas, nos meses de estiagem – de junho a setembro principalmente. “Se tenho muita partícula no ar teremos nuvens muito mais carregadas com consequência de chuvas. Isso em termos meteorológicos é alerta”, ressaltou, sobre o risco de chuvas mais fortes neste fim de ano.


O Comitê Municipal de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais Urbanos foi retomado em 2017 e é composto por 17 órgãos, entre eles poderes público municipal, estadual e federal, conselhos regionais de bairros, entidades e pela Câmara Municipal. São feitas reuniões mensais para promover debates com base em dados, segundo Vinicius Zanardo, do Comitê.


O número de atendimentos praticamente dobrou neste ano em comparação a 2018 em Campo Grande”, disse. A região do Bandeira liderou as ocorrências. Ainda, foram 55 mil atendimentos médicos por conta de problemas respiratórios, pois a fumaça agrava casos de asma, bronquite, por exemplo. Os danos na rede elétrica também aumentaram 40% de janeiro a setembro. As autuações por conta de queimadas para limpar terrenos também subiram de 50 no ano passado para 318 nestes nove primeiros meses do ano. O Comitê, entre outras ações, está desenvolvendo aplicativo para facilitar as informações sobre queimadas em tempo real.


Ainda em 2017, o mandato do vereador Eduardo Romero fez trabalho de conscientização junto a estudantes aplicando questionários para compreender o conhecimento dos alunos sobre as queimadas, meio ambiente e avaliando ainda o comportamento das famílias. No balanço, 56% disseram que conhecem alguém que limpa terreno ateando fogo, outros 12% revelaram que têm costume de queimar lixo.


O Coronel Catarinelli, da Sala de Situação do Governo de Mato Grosso do Sul, apresentou o trabalho que vem sendo feito em parceria com secretarias, Polícia Militar Ambiental, Corpo de Bombeiros e Prevfogo (Ibama). “Este ano já tínhamos expectativa da baixa quantidade de chuvas no período. Ativamos a sala de situação na Defesa Civil para acompanharmos indicadores e questões ambientais de forma integrada”. Houve o decreto de situação de emergência em razão do aumento dos casos.


Ele mencionou ainda os prejuízos para a saúde e econômia com as queimadas. “Temos o monitoramento, a fiscalização, mas é importante já pensar em 2020 e nos demais anos porque o incêndio florestal vem causando danos e precisamos de estratégias mais efetivas”, disse. Em relação às queimadas nos terrenos baldios, ele ponderou sobre a problemática dos vazios urbanos, que acabam contribuindo para agravamento dos problemas.


André Samambaia, do Movimento Acredito, falou sobre o desafio de tratar de questões importantes no Brasil, a exemplo do meio ambiente. Devido à demora de providências, acabam tornando-se urgentes, resultando apenas em respostas pontuais e rápidas. “Temos que discutir as formas que temos no meio ambiente para equalizar recursos com a nossa forma de vida. Precisamos participar dos debates e dessa construção, não apenas reclamando e denunciando, o que também é uma parte, mas tendo papel de compromisso na construção da política pública”, disse. Com objetivo de buscar soluções, a Câmara dos Deputados criou em setembro deste ano comissão externa para monitorar políticas públicas ambientais e seus impactos econômicos.


O debate contou ainda com a presença do deputado federal Dagoberto Nogueira. “Teremos consequências piores se não nos preocuparmos agora”, disse. Ele culpou o Governo de Jair Bolsonaro por decisões contrárias ao meio ambiente, principalmente na Amazônia, que teve recorde de focos. “Mesmo com as informações, ele quis argumentar que o satélite mente e tivemos esse volume de incêndio monstruoso”, criticou, relembrando ainda os cortes ao fundo de meio ambiente, causando prejuízos ao País.


O deputado estadual Pedro Kemp concorda que o País está sofrendo retrocessos significativos nas mais diversas áreas. “Temos retrocesso grande nesta área. Ainda existe queda de braço entre produtores rurais e meio ambiente. Se queremos investir no agronegócio é importante ter consciência ambiental clara. É preciso exigir produção sustentável. O Brasil está sofrendo com descaso do governo com a questão ambiental”, disse. Ele complementa que, diante do afrouxamento na política de fiscalização, é preciso a sociedade civil se mobilizar para reverter a prática de descaso do governo federal. Investir na conscientização, principalmente das futuras gerações, aliar desenvolvimento com sustentabilidade são algumas medidas apontadas pelo parlamentar como prioridades.


Serviço – Denúncias sobre incêndios podem ser feitas pelo 156 (Central de Atendimento ao Cidadão), de segunda a sexta-feira, ou 193 (Corpo de Bombeiros).

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